Lenda de Machim
Não existe evidência histórica que o comprove, mas, desde há muito, a narração dos factos que levaram à descoberta da ilha da Madeira tem uma versão bem mais poética do que a da descrição da chegada de Tristão Vaz Teixeira e João Gonçalves Zarco, em 1419. Segundo a mesma, terão sido o jovem inglês Roberto Machim, juntamente com a sua amada Ana de Arfet e alguns companheiros, os primeiros a ali acostar, em 1377.
Roberto, homem de condição remediada, frequentava a corte do rei Eduardo III (1312-1377). Foi lá que conheceu a aristocrata Ana de Arfet, pela qual se viria a apaixonar. Os desejos de matrimónio esbarravam, porém, com os dos familiares de Ana, que a conside- ravam apenas ao alcance de um pretendente oriundo da nobreza. Tal oposição leva Roberto Machim a decidir fugir com a sua pre- ferida rumo a França, país com quem Inglaterra mantinha longo conflito militar, que viria a ser conhecido como a Guerra dos Cem Anos (1337-1453). A evasão concretizou-se na véspera do casamento arranjado de Ana.
Em mar alto, uma forte tempestade afastou o casal e a tripulação do almejado destino. Depois de dias sem fim a vogarem perdidos, avistaram terra de luxuriante vegetação e, uma vez desembar- cados, começaram a explorar a ilha, procurando água e comida. Entretanto, nova tormenta se aproximou, obrigando-os a bus- carem refúgio entre as raízes de uma opulenta árvore que por ali havia. Finda a borrasca, perceberam que o seu barco não resistira e não tinham como dali sair. Pior, pouco depois, fragilizada pela viagem, Ana morreu.
Roberto sepultou-a junto à frondosa árvore onde se haviam abri- gado, e ergueu uma cruz de madeira para assinalar o local. Uma semana depois, destroçado pelo desgosto, também ele pereceu, sendo sepultado junto à sua amada. Os restantes membros da tripulação por ali ficaram. Uns morreram, outros acabaram por ser capturados por marinheiros mouros, que os venderam como escravos no Norte de África. Um deles acabou por ser resgatado e a sua história chegou aos ouvidos dos portugueses, que, ao chegarem à ilha, anos depois, se depararam com a cruz e uma inscrição contando a saga do casal. Em homenagem a Machim, deram àquela região o nome de Machico.
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